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A Chegada em Darkover,
de Marion Zimmer Bradley

A Feiticeira contra-ataca

Marion Zimmer Bradley ensaia a vitória da magia sobre técnica

A chegada em Darkover, de Marion Zimmer Bradley Tradução de Alfredo Barcelos Pinheiro de Lemos Imago , 172p.

Basta a cada dia o seu mal. Zimmer Bradley é hoje reconhecida como autora de história atraentes para qualquer clube de leitores interessados em consumir o chavão do feminismo. Passados vinte anos de sua primeira edição, o exercício de Mrs. Bradley na série Darkover pouco acrescentou ao território da ficção científica esse gênero prolixo e tanto mais chato quando não é tratado com mestria. Não é nada não é nada são onze volumes para preencher o tempo de quem sente um leve cansaço das séries televisivas e do cotidiano morno e sem sal. O primeiro livro tem lá sua inventiva. No século XXI uma supernave estelar se desvia de sua rota e cai em um planeta selvagem. Os sobreviventes precisam lutar com o ambiente hostil e estranhas forças psíquicas até construir seu novo lar. É o conhecido mito da origem, são contado e recontado à exaustão nos últimos séculos por todo autor de renome que se preze.

Quando a série Darkover começou a ser escrita, a moda era o amor livre, as comunidades de seus sentidos e sentimentos.

Como nas antigas lendas da Terra (leia-se nos mitos anglo-saxões), o futuro está completamente voltado para o passado. Apesar de anticoncepcionais à base de hormônio injetáveis e propulsores MAM que levam a Alfa Centauri, não faltam ressonâncias do tipo Eram os Deuses Astronautas e memórias de canções que falam do amor de um peregrino por uma fada. Sem perda de tempo , a compreensiva Marion estende a seus leitores os princípios de sua antropologia. O homem primitivo deve ter reunido poderes psíquicos que permitiram a sobrevivência e o desenvolvimento antes da civilização e da tecnologia. Reinava a percepção extra-sensorial, não havia entrado em cena a madrasta civilização e o cortejo de suas desditas. Alucinações, intuições e viagens astrais parecem fazer parte, aos olhos da ficcionista, do mapa do tesouro que a humanidade guarda sem saber.

Ao se aproximar do fim do primeiro volume da seria Darkover, o leitor vai encontrar seres alienígenas que fecundam mulheres da Terra e os modos de Camilla soa mais contemporâneos, como no caso dos vários filhos que possui com pais diferentes. O amor, desejo sexual e a vontade de ser feliz repetem sem muito colorido um hino aos fundamentos de uma civilização que não alternativas, o movimento hippie e seus congênitos. A cabeça das pessoas se ligava em tudo que tivesse a aparência de novo e do fascinante. Como é usual na ficção científica, o romance de Marion se prende mais uma vez aos traumas do tempo presente. O futuro não passa de uma projeção tosca de anseios e inquietações corriqueiras, cabendo à narrativa abrir o espaço de imaginação para o que se lia diariamente nos jornais. Eis a terra do próximo século na ótica da ficcionista de plantão: um planeta superpovoado, poluído, com a saúde pública controlada pelos avanços técnicos. Seus acham antiquadas atitudes como a do herói Rafael MacAran, que prefere escalar uma montanha em vez de usar o teleférico. Ele fatalmente forma um par com a altiva e obstinada Camilla Del Rey, cujo o nome de cantora de bolero esconde de fato uma personagem feminina vencedora como outras que são mostradas na saga de Avalon. Entre o afeto de Rafael e o amor do comandante Leichester, ela prefere se impor e ficar com os dois.

A autora sabe jogar com a descrição das paisagens extra-terrestre em que sobressaem os extremos do calor ao meio-dia e da nevasca à meia-noite, o ataque das formigas-escorpiões, flores e frutos que crescem rapidamente sob climas violentos. Chamam a atenção quatro luas multicolorida se um incrível vento que traz um pólen ou vírus capaz de levar as pessoas à satisfação imediata de seus desejos passionais. Na verdade, Vento Fantasma – como é chamado personagem – faz também com que os terrestres adquiram poderes extra-sensoriais ao gosto de narrativas em que a magia e a realidade têm que andar de mãos dadas. Mrs. Bradley não dispensa imagens levemente ridículas narrando o delírio psicodélico dos personagens, como um homem com a perna quebrada que sai correndo até cair rindo para uma das luas, enquanto um tigre lambe seu rosto carinhosamente.

Assim como não se vê à vontade com os efeitos do inusitado vento alucinógeno, Marion escorrega na sua visão da técnica e suas aplicações. Ela ridiculariza os homens que não conseguem dar um passo sem o apoio da boa e segura tecnologia. A nave interestelar resume o avanço e a competência alcanças do pelo homem no século XXI. A queda no planeta desconhecido faz dela uma fuselagem pesada e sem função. A máquina contamina a imagem de MacAran faz de si mesmo. Ser civilizado é o pecado original dos heróis em Darkover. Não há caminho de volta ou ponte com a história que ficou para trás, só é possível olhar para frente. Esse insensato futuro preconizado por Marion Zimmer Bradley não deixa de ser engraçado e soar hoje ligeiramente anacrônico. A nave precisa ser destruída. O computador, que levara o comandante a devanear sobre a própria semelhança com deus, deve ficar reduzido à condição de biblioteca até o dia em que os homens consigam retirar de si mesmos (de suas almas?) o conhecimento já armazenado na máquina. Nada como um ficção cientifica depois da outra para repetir que o destino da técnica e, por tabela, do homem é insano.

Marion Zimmer Bradley encontra espaço em sua narrativa para descrições líricas sob um novo céu e uma nova Terra. Em seus bons momentos. A ficcionistas nos mostra o êxtase de Camilla, embriagada com a natureza. Em Darkover, os personagens encontram sua juventude restaurada. Há mulheres feitas de flores, o sol da infância bate nas pálpebras de homens adultos e, nas palavras da autora, paira uma euforia gloriosa sempre que os terrestres são acometidos dessa estranha visão que modifica a lógica das coisas. Ao embalo das descrições fortemente marcadas de erotismo e sensoridade, Camilla e seus companheiros de aventura passam a desenvolver a percepção Sensorial. È comum na narrativa que alguém esteja ouvindo o que os outros pensam e tendo pressentimento de que algo está para acontecer. Enfim é a maneira que Marion encontrou para liberar seus personagens da opressão que ela prevê como a moeda corrente do futuro. Através de suas pulsões, todos se tormam humanos, estranhamentes humanos, com a expansão se cansa de cantar a si mesma. A cada sociedade, o autor que ela sustenta e merece. A chegada em Darkover não leva o leitor que esteve com Marion na Atlântida, em Tróia e na Távola Redonda, a correr riscos algum de ir além do que preza a nossa boa e segura indústria editorial.

Álvaro Andrade Garcia e Delfim Afonso Jr.
2/12/1989

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