A primeira impressão que tive foi de que visitava o aquário de Miami. Uma enorme baleia, desconfortavelmente alojada num limitado aquário de vidro, movia-se impaciente, esperando o fim do expediente. Repleta de pregas gordurosas, retorcendo-se e esguichando água pela abertura dorsal, ela parecia irritada. Abriu a imensa boca, que num só gesto me devoraria, e disse algo.
A figura dessa baleia se sobrepunha àquela funcionária quarentona, desproporcional e maquilada, que, por mais de uma vez, havia sido indelicada comigo.
Fazia três horas que eu esperava uma audiência com o juiz, e a baleia, distorcida pelo contato com o vidro, me horrorizava progressivamente. Custava a me conter ao ouvir suas estridentes explicações. Ela dizia que eu deveria ter sido mais precavido, que aquela não era hora de perturbar o juiz, que ficasse quieto no meu canto, …, na verdade ela não parava nunca.
Eu, distraído, imaginei-a nua nos braços do magistrado, amassando-o sobre o divã, sufocado e extasiado.
Ela cobrou minha atenção:
– O excelentíssimo te espera, queira retirar o boné ao entrar – borbulhou.
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Álvaro Andrade Garcia